Fala era vertida ao inglês e depois ao farsi ou vice-versa
Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro, BRASÍLIA – O Estadao de S.Paulo
Uma espécie de telefone sem fio foi montado pelo governo para permitir que o presidente Lula e seu colega do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pudessem conversar por três horas, no Itamaraty, além de se fazerem entender nos discursos e na entrevista à imprensa.
A fala de Lula em português era vertida ao inglês por um intérprete e, em seguida, traduzida para o farsi, idioma oficial do Irã. As declarações de Ahmadinejad faziam o caminho contrário.
A ausência de intérpretes do farsi para o português foi a razão desse caminho tortuoso, no qual expressões se perderam ou ganharam sentido menos literal. Mesmo sob essa pequena Torre de Babel, oito documentos foram assinados – todos pouco substanciais.
A confusão mais grave surgiu na entrevista, quando Ahmadinejad mencionou a quantidade de urânio enriquecido a baixo teor que o Irã deverá enviar ao exterior, para receber em troca o combustível para um reator de Teerã, conforme acordo mediado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Para o português, o primeiro número foi 250 quilos, seguido por 1.250 e, depois, por 2.250. O número correto seria de 1.200 a 1.500 quilos.
Depois da confusão dos tradutores, Ahmadinejad iria para o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) para um debate com estudantes. Mas, como a Polícia Federal foi informada em cima da hora, a programação foi cancelada.
A diretora-geral do Iesb se disse contrária às polêmicas pregações do iraniano. “Os alunos têm que confrontar suas ideias com as dos outros”, disse Eda Coutinho. Ela admitiu que a visita poderia desgastar a imagem do Iesb, por abrir as portas a um líder conhecido por posições autoritárias.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091124/not_imp471085,0.php